ÚnicaLinha

Share this post

#ÚnicaLinha12 O que é desaparecer? movimentos, retornos e descobertas

unicalinha.substack.com

#ÚnicaLinha12 O que é desaparecer? movimentos, retornos e descobertas

Luizza Milczanowski
Nov 3, 2022
Share
Share this post

#ÚnicaLinha12 O que é desaparecer? movimentos, retornos e descobertas

unicalinha.substack.com

I watched the guys getting high as they fight
For the things that they hold dear
To forget the things they fear
This is how to disappear
(LDR)

A rotina de pesquisa, de trabalho e de estudo anda me cercando por todos os lados. Sei que é um processo difícil. Todo o tempo que tive entre 2019 e 2020 foram engolidos pela falta de tempo desse ano. Este semestre, no mestrado, estou muito ligada à minha área de pesquisa - a antropologia - graças ao estágio docência em Sociologia e à disciplina oferecida pelo meu orientador sobre antropologia, sociedade e estado.

Nesse processo, temos nos debruçado muito sobre narrativas, construção de biografias e de sujeitos. Não é difícil de perceber, como escritora, o meu interesse no tema. Na última semana, lemos o livro “uma trajetória em narrativas”, da antropóloga Suely Kofes, sobre o processo de esquecimento de um sujeito no tempo – mais especificamente, de uma mulher que foi figura pública na cidade de Goiás no século passado e que se tornou reclusa: por que essa mulher se tornou reclusa? Por que foi esquecida? É isso que Kofes tenta desvendar, a partir de narrativas que são (ou não) produzidas sobre um indivíduo.

Sempre interessada, no meu processo literário, na memória e no esquecimento do sujeito de si, me deparei com uma virada de perspectiva: a memória e o esquecimento de um sujeito a partir do social. O que fica e o que permanece de um indivíduo no mundo, e a partir de quem. Aqueles que escolhemos lembrar e aqueles que preferimos, como sociedade, esquecer, e os interesses e jogos políticos e de poder que existem por trás dessas escolhas.

Tenho pensado de fora para dentro o que muitas vezes me questionei de dentro para fora: como alguém escolhe desaparecer? Como é possível desaparecer? Ser corpo e deixar de sê-lo. Deixar de existir para o mundo. Em que medida um sujeito existe ou deixa de existir para além de si mesmo? Como se constitui o que um sujeito é nele mesmo e para os outros?

Thanks for reading ÚnicaLinha! Subscribe for free to receive new posts and support my work.


Eu poderia levar esses questionamentos para muitos lugares. Penso, sobretudo, nessa nossa existência online. Nos livros que escrevemos, nos arquivos que deixamos. O medo da morte. Minha cabeça cintila com as possibilidades. Mas, antes de tudo, talvez eu pudesse dizer:

Por que, afinal, a antropologia?

Eu poderia responder isso de diversas maneiras. Mas, em certo aspecto, é simples: vejo a antropologia muito próxima da literatura, e insisto nisso, em todos os espaços, porque ambas se voltam para o humano, para suas práticas, para aquilo que acontece em pequenas estruturas e que se entrelaça com muitas e muitas outras estruturas maiores, mas que precisamos colocar em um maior ou menor grau de aproximação para observar e pensar.

A diferença é que, enquanto a literatura se volta para a ficção, a antropologia se volta para a realidade, mas as duas lidam com ficção e realidade. A antropologia é um exercício de criatividade e de interpretação. A principal diferença está na intenção: a literatura e a arte não têm compromisso algum com a realidade ou com o método. A arte é, para trazer Sartre, completamente livre. Mas ambas, antropologia e literatura, me permitem olhar com atenção e surpresa para o mundo – para o meu mundo e para o mundo do outro. A alteridade marca esse tipo de exercício. 


Neste último mês, tenho experimentado muitas mudanças. Uma delas está justamente relacionada à pesquisa no mestrado: uma mudança de objeto. Antes, minha ideia era continuar o trabalho relacionado à arte e à censura desenvolvido na graduação. Mas, o tema me parecia difícil como campo etnográfico (método próprio – mas não exclusivo - da antropologia). Então, sem que eu esperasse, a partir de uma curiosidade inicial, acabei encontrando ou sendo encontrada por outro tema de pesquisa. Não conseguia dormir pensando nesse tema! Senti que fosse enlouquecer. Disse para o meu orientador: estou animada como se tivesse tido a ideia para um livro novo. Eu não podia ignorar isso. Ele me perguntou por que então o medo de mudar. A partir dessa inquietação, decidi dar espaço, mais uma vez, ao desconhecido.

E nada me movimenta mais do que a descoberta. 


Adendo: um amigo me perguntou ontem se eu tinha medo de ser esquecida. Respondi, simplesmente, que eu não ia saber. Ele riu, mas é verdade. O que acontece depois da morte me interessa pouco. Tenho interesse naquilo que ocorre na vida, nas ações dos sujeitos no mundo. E por isso fico tão triste com grandes escritores que morreram sem a possibilidade de saberem como são importantes. 


Por aí: 

Saíram os dez finalistas do Jabuti. Fiquei feliz em ver o número expressivo de mulheres como finalistas em romance literário, apesar de ainda sentir falta de pequenas editoras. 

No final de novembro acontece a FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty. A programação principal você encontra aqui. 

Para ver: 

Recomendo o documentário À Margem do Corpo, da Débora Diniz, já que o assunto é antropologia. O documentário fala sobre aborto legal. 

Quer papear? Me conta o que achou? Responde esse e-mail <3 
Quer conhecer mais o meu trabalho? Acesse o site ou me encontre aqui. 
Me segue no Instagram :) 

Um beijo 😊

Thanks for reading ÚnicaLinha! Subscribe for free to receive new posts and support my work.

Share
Share this post

#ÚnicaLinha12 O que é desaparecer? movimentos, retornos e descobertas

unicalinha.substack.com
Previous
Next
Comments
Top
New

No posts

Ready for more?

© 2023 Luizza
Privacy ∙ Terms ∙ Collection notice
Start WritingGet the app
Substack is the home for great writing