UnicaLinha #08 - o pintor, o escritor, a mão e a sombra
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"E se meu mundo interno escande o verso, O mesmo há de ocorrer no das galáxias, Que creio ser perfeito decassílabo". V.N. A pintura do quarto do silêncio Sua figura é lírica e transparente, talvez levemente diáfana. Seus tons são de azul e verde – mas são cores percebidas como percebemos a luz da manhã. Acorda, os olhos confusos, o cabelo no rosto. Ela está nua e o corpo flutua nos lençóis brancos. É como se pairasse, como se não pudesse encostar na superfície dos móveis. Ela pede, então, com o sobrolho, que se feche a janela. O dia a faz triste. Tem os movimentos suaves de angústia dos pesadelos vívidos. É tudo silêncio senão pelo som dos passos daquele que fecha a janela – o leve gemido da madeira, um trinco preguiçoso e as cortinas suspirosas. A mão que toca as cortinas quase não as diferencia do contato com os cabelos da criatura. Os dedos sentem os fios, quase etéreos, irreais. Ela sorri um sorriso tímido e se afunda mais na cama, o rosto entre os travesseiros. Coluna, omoplatas, os ossos se destacam até as ancas. Bracinhos idílicos puxam uma colcha e, feito um pequeno animal, o corpo se enrosca e se aninha por debaixo dos lençóis.
UnicaLinha #08 - o pintor, o escritor, a mão e a sombra
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UnicaLinha #08 - o pintor, o escritor, a mão e a sombra
"E se meu mundo interno escande o verso, O mesmo há de ocorrer no das galáxias, Que creio ser perfeito decassílabo". V.N. A pintura do quarto do silêncio Sua figura é lírica e transparente, talvez levemente diáfana. Seus tons são de azul e verde – mas são cores percebidas como percebemos a luz da manhã. Acorda, os olhos confusos, o cabelo no rosto. Ela está nua e o corpo flutua nos lençóis brancos. É como se pairasse, como se não pudesse encostar na superfície dos móveis. Ela pede, então, com o sobrolho, que se feche a janela. O dia a faz triste. Tem os movimentos suaves de angústia dos pesadelos vívidos. É tudo silêncio senão pelo som dos passos daquele que fecha a janela – o leve gemido da madeira, um trinco preguiçoso e as cortinas suspirosas. A mão que toca as cortinas quase não as diferencia do contato com os cabelos da criatura. Os dedos sentem os fios, quase etéreos, irreais. Ela sorri um sorriso tímido e se afunda mais na cama, o rosto entre os travesseiros. Coluna, omoplatas, os ossos se destacam até as ancas. Bracinhos idílicos puxam uma colcha e, feito um pequeno animal, o corpo se enrosca e se aninha por debaixo dos lençóis.